Como as culturas ao redor do mundo banem os maus espíritos

Por que tantas comunidades ao redor do mundo acreditam em espíritos e, mais importante, por que tentam afastá-los? A ideia de que algo invisível pode causar doenças, infortúnios ou inquietação está profundamente enraizada na história da humanidade.

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Sejam orações sussurradas, rituais cheios de fumaça ou objetos sagrados colocados perto da porta, essas práticas nos contam mais do que apenas histórias: elas revelam o que as pessoas valorizam, protegem e temem.

Entender como culturas ao redor do mundo banem maus espíritos abre uma porta para como a humanidade lida com o desconhecido.

Rituais que mantêm o invisível afastado

Cada cultura tem uma linha entre o visível e o invisível. Algumas traçam essa linha com sal. Outras usam fogo, cânticos ou símbolos. Essas ações nunca são aleatórias — são moldadas por gerações de crença, experimentação e sobrevivência.

No Brasil, uma mulher chamada Clara acende velas brancas e coloca alecrim à sua porta toda véspera de Ano Novo. Não é apenas um hábito. Ela acredita que isso protege sua casa da inveja e da má vontade.

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Do outro lado do mundo, na Mongólia, Baatar carrega a bolsa espiritual de sua avó, cheia de cinzas e ervas, durante os passeios a cavalo. Ele diz que ela o mantém a salvo dos ventos malévolos e dos espíritos inquietos que vagam pelas estepes.

Apesar da enorme distância entre Clara e Baatar, suas ações têm o mesmo propósito: proteção por meio da tradição. Dos rituais viscerais da Coreia do Sul às cerimônias zar da Etiópia, as práticas de banimento de espíritos conectam o tempo e a geografia.

A diversidade desses costumes é impressionante. Mas o que os une é a crença de que o mundo tem mais camadas do que os olhos podem ver.

Leia também: Rituais antigos ainda praticados em aldeias remotas

Objetos de Poder: As Ferramentas que as Culturas Usam para Purificar

Nem todas as culturas combatem espíritos com fogo ou barulho. Algumas se baseiam em pedras de toque, talismãs e itens sagrados que se acredita carregarem energia protetora. Esses objetos são passados de geração em geração ou criados durante cerimônias especiais, carregados de memória e significado.

Na Grécia, amuletos de vidro azul contra o mau-olhado pendem sobre portas e berços. Na Tailândia, tatuagens protetoras chamadas Sak Yant são inscritas na pele durante rituais de bênção.

Essas tatuagens não são apenas decorativas — dizem que elas protegem quem as usa de danos, má sorte e até mesmo da morte.

No Marrocos, é comum ver símbolos de mãos khamsa esculpidos em portas. Segundo Fátima, uma artesã local, essas mãos "capturam o olhar do mal antes que ele entre em casa". Essa crença transforma um símbolo em um escudo.

Essas ferramentas — amuletos, contas, ervas, cinzas — não são apenas objetos. São recipientes de esperança, medo e resiliência. Elas nos lembram que o poder nem sempre é alto. Às vezes, é silencioso, usado em um colar ou enterrado sob a soleira de uma porta.

Som, Fumaça e Cerimônia: Expulsando Espíritos

Para muitas culturas, o banimento não é algo sutil — é barulhento, esfumaçado e intenso. De tambores a cânticos, essas cerimônias são experiências imersivas que misturam teatro e fé. O objetivo é subjugar e expulsar qualquer força que se acredite persistir.

Em Bali, uma cerimônia de purificação chamada Melukat envolve água, flores, incenso e orações. As famílias trazem seus filhos para limpar as energias negativas e começar de novo. Os sons dos gongos ecoam enquanto os sacerdotes entoam mantras em sânscrito.

Em partes da África Ocidental, cerimônias de possessão espiritual envolvem dança, música e trajes elaborados. Os participantes entram em estados de transe, que se acredita permitirem que os espíritos falem ou saiam através do corpo humano.

Mesmo em espaços urbanos modernos, ecos dessas cerimônias permanecem. Em Nova Orleans, as pessoas realizam "rituais de purificação" que incluem fumaça de sálvia, palmas rítmicas e orações crioulas. Eles podem não usar máscaras ou cantar em línguas antigas, mas a intenção é a mesma: deixar o espírito desconfortável o suficiente para que ele vá embora.

Não é superstição. É estrutura. Esses rituais dão às pessoas uma sensação de controle sobre o medo.

Comunidade como barreira: como a crença se torna uma defesa compartilhada

Uma pessoa pode acender uma vela, mas uma comunidade inteira pode iluminar o céu. A crença compartilhada acrescenta poder à proteção. Quando as pessoas se reúnem para cantar, tocar tambores ou trilhar um caminho sagrado juntas, elas criam um muro social e espiritual contra a escuridão.

No Japão, o festival Setsubun convida as famílias a jogar grãos de soja torrados enquanto gritam: "Oni wa soto! Fuku wa uchi!" — "Demônios fora! Fortuna dentro!" As crianças riem, os mais velhos guiam, e os lares se sentem um pouco mais seguros ao final da noite.

Na Bolívia, o povo aimará celebra o festival Alasitas, oferecendo miniaturas de objetos e símbolos para atrair abundância e afastar o infortúnio. Não é apenas espiritual — é um momento de união cultural.

Uma pesquisa recente da Pew Research descobriu que quase 401% das pessoas em países em desenvolvimento acreditam em rituais de proteção, mesmo entre a geração mais jovem. Isso demonstra resiliência da crença, não declínio.

Quando uma comunidade acredita unida, os medos diminuem. Essas defesas compartilhadas são lembretes de que não lutamos sozinhos — mesmo contra o que não podemos ver.

A ciência por trás do espiritual

Os céticos podem zombar. Mas estudos mostram que rituais, mesmo aqueles sem efeito sobrenatural "comprovado", ajudam a reduzir a ansiedade, melhorar o foco e reforçar a identidade comunitária.

Um estudo de 2013 publicado em Ciência Psicológica descobriram que ações rituais reduzem sentimentos de luto e medo — mesmo quando os participantes não acreditam na magia do ritual. É a estrutura que cura, não a lógica.

Isso não torna os rituais falsos. Os torna poderosos de outra forma. Eles acalmam, unem e dão significado.

Assim como abraçamos alguém para oferecer conforto, mesmo sabendo que isso não resolverá o problema, realizamos rituais para dizer: nós nos importamos, nós notamos, nós resistimos.

Conclusão: Por que ainda afastamos as sombras

Culturas ao redor do mundo banem os maus espíritos não porque eles gostam de superstição, mas porque isso lhes dá uma maneira de entender e responder ao medo.

Seja uma doença que não passa, uma sequência de azar ou um som estranho na noite — os rituais permitem que as pessoas façam algo. Eles transformam ansiedade em ação, incerteza em ritmo.

Do buquê de alecrim de Clara à bolsa espiritual de Baatar, os métodos variam, mas a mensagem é a mesma: não somos impotentes. E talvez essa seja a verdadeira magia.

Quando estudamos essas tradições, não estamos aprendendo apenas sobre fantasmas, estamos aprendendo sobre a necessidade humana de significado, controle e esperança.

FAQ – Como as culturas ao redor do mundo banem os maus espíritos

1. Esses rituais de banimento de espíritos ainda são praticados hoje?
Sim, muitas dessas tradições estão vivas e bem, praticadas tanto em vilas rurais quanto em cidades urbanas ao redor do mundo.

2. As pessoas ainda acreditam em espíritos nos tempos modernos?
A crença em espíritos continua forte em muitas culturas e, mesmo em sociedades seculares, as pessoas ainda podem realizar rituais para obter paz de espírito.

3. Qual é o benefício psicológico dessas práticas?
Os rituais ajudam a controlar a ansiedade e a criar uma sensação de controle, mesmo quando não há uma explicação tangível para um problema.

4. Como objetos como amuletos ou talismãs funcionam nessas tradições?
Eles servem como símbolos de proteção, acreditando-se que repelem energia negativa ou atraem forças positivas.

5. Alguém de fora da cultura pode participar desses rituais?
Depende. Respeito, permissão e compreensão são fundamentais. Alguns rituais são sagrados e fechados a estranhos, enquanto outros acolhem a participação com o devido contexto.